Como a Astrologia Chinesa lida com final de ano e se prepara
para o novo
O modo como a
Astrologia Chinesa lida com final de ano assim como sua maneira de se prepara
para o novo, tem relação direta com a tradição cosmológica e filosófica chinesa.
Esse modelo considera os fenômenos da natureza, como as estações do ano ou as
fases da lua, por exemplo, como fator determinante para iniciar ou terminar um
novo ciclo. Assim, o término de um ano é um ciclo que deve ser encerrado com todo
o cuidado e atenção para que a entrada de um novo ciclo ocorra com fluidez e da
melhor maneira possível.
A própria passagem de tempo e as experiências dos ciclos
vividos tem uma de suas raízes nos primórdios da história da seda na China
Antiga. Ao contrário do que podemos pensar, a invenção da seda não teve
evidência apenas pela importância no vestuário, mas por uma profunda reverência
em um culto primitivo: o ciclo do bicho-da-seda e as suas transformações. Há
mais de 5000 anos, os chineses já haviam domesticado o bicho-da-seda selvagem,
cujo fio foi utilizado como matéria-prima na confecção dos tecidos de seda.
A metamorfose do bicho-da-seda levou
os antigos chineses a refletirem sobre o ciclo vital de todas as coisas. Os
ciclos eram compreendidos da seguinte forma:
- O ovo traz o simbolismo da
gênese da vida
- A germinação da larva é a
representação da vida em puro devir
- A pupa, que é
quando a lagarta constrói seu casulo para completar seu desenvolvimento, é
interpretada como a conquista da vida na sua forma mais primitiva
- A transformação final da pupa
numa mariposa em voo simboliza o destino da alma após a morte
Estas metáforas englobam uma
visão poética e filosófica de um ciclo da vida, e assim, a referência de ciclos
na visão chinesa se coloca nas coisas do mundo e dos fenômenos naturais
ocorridos entre o céu e a terra. Na visão da origem da seda se revela a
filosofia chinesa com seu conceito da união entre a natureza e o homem e a
necessidade de cooperação e união com a natureza, que a antiga civilização
deixa de herança à nossa contemporaneidade já bem esquecida por nós, deixando pra
trás uma sabedoria rica e cheia de vida tentando substituir cada vez mais por
processos tecnológicos que enferrujam nossos sentimentos e nossas potências
naturais.
Contudo, ainda temos algumas
referências dessa antiga sabedoria, como a Astrologia Chinesa, que pode ser
acessada e utilizada para nos auxiliar a compreender a leitura de energia de cada ciclo no universo e
na nossa própria vida de modo muito mais coerente com a nossa natureza. As
técnicas astrológicas apresentam diversas bases de leitura cosmológica que a
visão oriental chinesa nos oferece.
A astrologia chinesa mesmo sendo
um conhecimento ancestral ainda se conecta com a vida moderna quando o assunto é a chegada de um
ano novo que influencia tanto as pessoas como a suas crenças e valores. É bem
verdade que a tradição do olhar oriental chinês leva mais em conta do processo contínuo das coisas,
como a sua visão das energias complementares Yin e Yang que circundam no
universo, de fato, há uma continuidade entre o dia e a noite, uma polaridade
contínua de temperatura entre quente e frio, assim como a luz e a escuridão. Maria
Trigoso[1],
pesquisadora da língua chinesa, comenta que não é de admirar que a filosofia
chinesa tenha pensado o viver no presente, interessada no Processo, no qual o
tempo é entendido como momento propicio (...). Assim, a arte de viver assenta,
antes do mais, na correlação entre as categorias da 'oportunidade' (o que vem
ao nosso encontro – o tempo como momento qualitativo) e a 'disponibilidade' (a
abertura que temos de ter para o acolher).
Essa
referência da consideração do tempo para a tradição chinesa representa muito
sua cosmologia da qual a astrologia é
filha primeira, portadora das artes na sua interpretação e das ciências na sua
localização dos astros e estrelas. No conhecimento do macrocosmo vemos a influencia
direta no microcosmo, propiciando a relação entre o homem e o céu numa
progressão de vida e acontecimentos. Assim, a astrologia cuida em direcionar o
homem nessa teia cosmológica na qual o lema Vulcano[2]
enxerga muito bem o universo em sua Infinita Diversidade em Infinitas Combinações.
[1]
Maria Trigoso, «A (não) questão do tempo na tradição
chinesa», Cultura,
Vol. 23 | 2006, 209-219.
[2]
Referências da franquia norte-americana de filmes Star Trek, criada por Gene
Roddenberry.
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